• Nós somos design
Se o design fosse uma pessoa, para mim seria mais ou menos assim:
• A forma — imagens, composição etc. — seria o corpo;
• A tipografia é a roupa que veste esse corpo dando um certo estilo próprio;
• E as cores seriam a alma, a inspiração, força, sentimento que vem de algo imaterial.
Ainda poderia adicionar alguns “adereços gráficos” como simbologias, linguagens de construção e criação — que seriam os detalhes construtivos da peça — como os objetos de moda que usamos e que podem agregar mais informação ao tipo de personalidade que queremos passar a quem nos conhece.
Para mim o design gráfico é assim: uma personalidade com corpo e alma.
E assim como qualquer pessoa pode aparecer em uma festa ou evento, vestido de um modo inadequado, o design também pode — dependendo das mãos e olhar equivocado de quem o cria — aparecer, ser usado ou criado de um modo errado, ficando distante da mensagem que deveria passar.
Este é um grande problema do design gráfico: entender e qualificar o senso estético. Algo difícil de ensinar, difícil de aprender, ter, possuir — principalmente quando trata-se de alguém que já nasceu com um senso estético um tanto quanto equivocado.
Bom gosto não se aprende, ou temos ou não temos, concordam?
Acho que a maioria vai dizer que concorda. Mas eu não concordo, pelo menos em partes.
Concordo que é muito difícil fazer com que alguém que tenha um senso estético ruim, passe a ter um olhar perfeito para um conjunto visual. Mas acredito que é possível sim aprender, ensinar, passar a ter um bom senso estético em design gráfico. É difícil, mas é possível.
É como se fizéssemos uma assessoria de moda para um amigo (a) que se veste super mal.
Com jeitinho e amizade é possível convencê-lo a melhorar seu visual para algum encontro. Ele pode até não adotar a sua sugestão para toda a sua vida, mas somos capazes de conseguir fazer com que ele (a) entenda que, pelo menos naquele momento, pode melhorar seu estilo para que ele se adeque a um determinado objetivo.
Em design gráfico é assim — pelo menos tento fazer assim em minhas aulas e acho que funciona — devemos entender que nosso gosto pessoal — e não estou falando de estilo autoral ou senso estético, mas de gosto, preferência — pode, por muitas vezes, não ser o padrão estético ideal a um determinado objetivo de comunicação — já que vejo o design gráfico como um ato de comunicar apenas com imagens — e, por isso, devemos adequar esse nosso gosto particular a um novo tipo de olhar com temas, objetivos e público específico e que pode ser o extremo oposto daquilo que gostamos.
E aí é que vem o passo mais difícil: usar um bom senso estético em algo que foge dos nossos padrões de gosto, de preferências. Entender que algo que possa ser “feio” para nós pode ser o “belo” para outros.
Como colocar beleza em padrões considerados ruins?
O que é feio ou belo para uns, pode ser o contrário para outros.
Um gosto pessoal tido como brega ou cafona — são coisas diferentes — pode se tornar moderno, divertido, kitsch, retro etc., quando somos capazes de perceber, com nosso senso estético e não gosto, o que existe de belo no feio, ou seja, perceber qual detalhe — que pode vir da combinação de cores, tipografia, imagens, padrões — pode tornar-se único e um diferencial estético na peça gráfica que estamos criando.
Devemos entender que gosto pessoal e senso estético são coisas distintas. Como designers somos obrigados a ter um ótimo senso estético, mesmo tendo um péssimo gosto pessoal.
Costumo dizer que existem várias Márcias Okidas em uma e como adoro design, arte, cores, estética etc., muitas vezes me adapto visualmente aquilo que vou fazer no momento.
Tem a Okida que dá aulas de jornalismo e neste momento usa roupas mais básicas e menos cores.
Já a que dá aulas de design pode ir vestida de verde e vermelho meio ao estilo de Frida Khalo ou Van Gogh.
Dando palestras e cursos, a Okida é uma mistura dos dois; meio clássica, mas moderna.
Já no grupo musical, cantando, me dou o direito de ousar mais ou me aproximar visualmente do tema a ser abordado no show.
Todas são a mesma pessoa, mas que se adapta visualmente a cada objetivo.
Todos nós fazemos isso de uma forma mais ou menos intensa.
O senso estético em design gráfico pode ser visto, entendido assim. Alguns podem imaginar ser um modo meio simplório de abordar o tema, mas acredito que funcione.
Porque para mim, como disse no início, se o design fosse uma pessoa, seria mais ou menos assim: a forma corresponde ao corpo, a tipografia a nossa roupa, símbolos de construção e criação são adereços de moda e a cor é a alma.
Nessa semana pretendo abordar cada etapa dessa nossa vestimenta começando pela roupagem, a tipografia, amanhã aqui neste mesmo local.